O CANTO GREGORIANO

Entre os judeus a música era um elemento importante nas cerimônias religiosas. Ora, os primeiros cristãos eram judeus e abraçaram o cristianismo sem considerar tal opção um rompimento com o judaísmo, mas tão somente a continuação da religião de Israel, após o cumprimento da promessa da vinda do Messias.
Cristo frequentava o templo e as sinagogas, assim como os apóstolos. Nada mais natural que, no seu culto, enriquecido pela Eucaristia, os primeiros cristãos usassem os cânticos judaicos e fossem novos cânticos, dentro do mesmo estilo de melodia. Com a difusão do Cristianismo entre todos os povos conhecidos, passou a liturgia cristã a receber, também destes, a influência de sua música.
Até o século III, a língua usada nas cerimônias era o grego. A partir de então, o latim tem sido a língua oficial do Rito Romano. Os mais antigos cantos cristãos são os salmos, provenientes diretamente do culto judaico, seguidos depois pela antifonia e pela hinódia. O nome Gregoriano vem do papa S. Gregório Magno, que regulamentou o canto litúrgico, dando uniformidade à sua prática em toda a Igreja. O Canto Gregoriano, escrito com notação quadrada, sem compassos nem valor de tempos definidos, carecia também de estabelecer a altura do som de cada nota, servindo apenas como processo mnemônico para a execução de cantos, previamente aprendidos por tradição.
Somente no século X é que o monge beneditino Guido d'Arezzo, conseguiu estabelecer uma definição clara dos intervalos entre os sons de cada nota, possibilitando, a partir de então, o grande salto que permitiu o surgimento da polifonia e da música que hoje conhecemos.
Os mais antigos cantos ressentem o influxo das antigas melodias hebráicas e greco-romanas. O Canto Gregoriano é assim chamado "Canto de Coro" (Cantus Choralis), cantus firmus, cantus planus, canto chão.
O Canto Gregoriano é o Canto Oficial da Igreja, monódico, diatônico, sem acompanhamento, composto em determinadas escalas (modos) e em ritmo livre.

•    Canto Oficial da Igreja: pela Tradição, Perfeição, Espírito Musical.
•    Monódico: a uma só voz, em uníssono.
•    Diatônico: sem alterações cromáticas; com exceção do Si Bemol, não há outros bemóis ou sustenidos.
•    Sem acompanhamento: assim ele foi composto; apenas se tolera um leve acompanhamento de órgão ou harmônico, para sustentar as vozes, impedindo desafinação.
•    Em determinadas escalas ou modos: estes são diferentes das escalas comuns da música profana.
•    Em ritmo livre: o que significa ausência de compasso fixo. Os impulsos binários e ternários misturam-se livremente, como no ritmo da oratória.

Difere pois, o Canto Gregoriano da Música Profana. Não somente pela monodia e diatonia, senão principalmente pelos modos e ritmo livre. Na música, o ritmo métrico ou medido é o mais habitual: há então repetição constante e isócrona dos impulsos e acentos como no compasso da dança, marcha, etc.

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(*) texto original de Luiz Carlos Peres